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A cultura digital impõe uma socialização pautada na hiperconectividade e na hipercomunicação. Tornamo-nos, pois, onipresentes pelas redes digitais, sempre acessíveis e disponíveis pelos dispositivos móveis. Esses aparelhos e seus aplicativos conduzem-nos a um individualismo, pressionando-nos a uma autorreinvenção a fim de mantermo-nos interessantes aos outros. Com isso, as relações construídas podem ser sentidas como instrumentos para obter visibilidade na rede. A liquidez dessas experiências, potencializadas pela mercantilização de identidades e dos afetos, pode hiperdimensionar a sensação de solidão. A conta @l1nk_se foi criada no Instagram para disseminar Reels, vídeos curtos capazes de instigar conversas públicas e privadas com usuários dessa rede social. Ao estabelecer relações momentâneas, o trabalho pôde questionar as relações das pessoas consigo e com os outros, sensivelmente afetados pela ubiquidade da tecnologia, principalmente das mídias sociais digitais.

Os vídeos curtos publicados no perfil @l1nk_se foram agrupados em quatro séries. Na primeira, Espelho, o artista desvelou, de forma crua, sem véus estéticos, sua intimidade, realizando transmissões ao vivo de atividades cotidianas. O banal foi exacerbado para chamar atenção para a vida íntima oferecida como produto de rápido e fácil consumo. As duas séries seguintes, Poltergeist e Tamagotchi, utilizaram a metáfora como linguagem, a fim de aludir às mudanças acarretadas pela tecnologia nas relações humanas. O filme de terror da década de 1980 serviu de inspiração para a construção de imagens que visaram discutir a instabilidade do sujeito contemporâneo, em constante busca por aprovação alheia nas redes sociais. A autorreinvenção da identidade para formação e manutenção de laços frágeis, representados pela quantidade de seguidores e suas interações, possuem o intuito de atestar suas próprias relevância e existência. Por seu turno, o bichinho eletrônico japonês abordou, de maneira mais direta, essas identidades efêmeras, descartáveis, que concorrem pela atenção alheia. O Instagram foi retratado como uma rede social de Tamagotchis humanos. Por fim, a série Pílulas encerra o conjunto de imagens disseminadas. Desta feita, elas tiveram a predominância de elementos textuais, de comunicação direta, quase publicitárias, e contiveram provocações explícitas ao comportamento hegemônico das redes sociais.

Os vídeos curtos (Reels) não visaram um consumo passivo, epidérmico; buscaram provocar o estranhamento, fazer questionamentos diretos e indiretos para instigar a conversa através de mensagens públicas e privadas. Logo, as imagens serviram de pontos de encontros inesperados com o público, que pôde iniciar uma relação com o artista. Os vínculos estabelecidos a partir da leitura das imagens visaram explicitar aspectos dos comportamentos na rede digital e provocar o pensamento crítico sobre como habitamos esse espaço.

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